Na natureza, as poucas espécies que ainda existem, vivem nos brejos, mangues, capões de matos, beiras de rios e de lagoas, onde haja o capim-navalha (Hypolytrum pungens) ou navalha-de-macaco (Hypolytrum schraderianum) ou a tiririca ou navalha-de-mico (Cyperus rotundus) seu alimento básico aos que vivem em seu habitat natural.
Os curiós e os bicudos raramente são encontrados na natureza, pois devido ao desmatamento, as queimadas, aos agrotóxicos empregados na agricultura, a poluição dos rios, fazem com que esses magníficos pássaros estejam ameaçados de extinção e isso só ainda não ocorreu graças a dedicação de criadores comerciais e amadores, que com seus sensos preservacionistas, com autorização do Ibama criam em ambiente doméstico, preservando a espécie.
Os pássaros deste gênero caracterizam-se por terem o bico robusto e cônico, próprio para esmagar sementes. Os olhos, as pernas e os pés são enegrecidos. São três dedos muito flexíveis para a frente e um para trás. Em suas extremidades apresentam unhas afiadas e um tanto curvas nas pontas, apropriadas para agarrarem-se aos ramos finos dos capins.
São pássaros canoros considerados dos mais nobres, o curió imita o som de um violino e o bicudo emita uma flauta. A frase musical varia de 15 a 20 notas e é de muita maviosidade e cadência, uma verdadeira sinfonia.
Na opinião de muitos conhecedores esses pássaros canoros, são os melhores cantores que a natureza já produziu. É impressionante observar a maviosidade e o volume do som que conseguem produzir, dispondo de uma siringe tão pequena.
Quando estão cantando, costumam ficar com o rabo abaixado e o peito para a frente, em posição ereta, para ressaltarem a sua aparência de guerreiros e com uma elegância indescritível. Os movimentos são compassados e harmoniosos.
Possuem campos de visão e de audição muito aguçados. Na natureza, a velocidade durante o vôo é muito rápida, favorecida pela envergadura e tamanho das asas, do rabo e o pouco peso em relação à dimensão do corpo.
Vivem sós ou em casais, à exceção no outono, quando, junto com os filhotes, formam bandos com outros companheiros nascidos e residentes nas proximidades.
Na natureza, podem ser vistos ou ouvidos de muito longe nos locais onde habitam, tanto pela altura do canto como pelo costume de pousar no último galho da árvore mais alta da sua área geográfica. Esta posição estratégica lhes dá condição também de avistar e patrulhar todo o território.
Na natureza são monogâmicos e territorialistas, procriam pouco, dois ovos de cada vez. O casal de curió e o casal de bicudo estão sempre juntos respectivamente. Macho e fêmea voam sempre um atrás do outro, procurando não se separar muito, embora dentro do território às vezes se afastem um pouco, mas continuam sempre se comunicando através dos piados e do canto.
Os machos do curió e do bicudo adultos, quando voam, exibem o espelho branco da parte interna das penas das asas, porque possuem uma mancha branca, redonda e simétrica, de mais ou menos um centímetro no centro de cada asa. Esse espéculo é conhecido por "mosca branca".
O bicudo é um pouco maior e todo preto com o bico de variadas cores.
O curió, também preto, tem uma colocação cor de vinho no abdômen e o bico quase sempre preto, podendo ter partes da cor branca.
As fêmeas filhotas e adultas de curiós e de bicudos, possuem as penas marrom cor de terra, já os filhotes machos também ficam com essa cor até mais ou menos um ano e meio.
Além disso, têm por hábito resolver desavenças pelo sistema de disputa em duetos de canto antes de ir para as vias de fato. O medroso se intimida só de ouvir o cantar de outro macho mais valente a uma distância próxima.
São vigilantes e alertas, movimentam-se muito pelo território. Procuram estar sempre nos lugares onde possam avistar as fêmeas. Elas se preocupam mais com o ninho e com as coisas que acontecem por perto. Sabem que qualquer fato grave será detectado pelo seu "valente" marido. Ficam mais escondidas e protegidas, nas partes baixas das ramagens do habitat.
Na natureza, em situação normal, o acasalamento se dá de forma tranqüila. Depois da migração temporária da época da muda e do inverno voltam aos seus territórios, no início da primavera, e o macho novamente corteja a mesma fêmea. Como já se conheciam, o entrosamento é rápido e fácil. Logo em seguida iniciam a reprodução.
A agressividade dos curiós e dos bicudos é muito grande. Uma outra característica marcante é a grande diferença de comportamento individual entre eles. Os machos costumam brigar violentamente com as fêmeas quando estão enciumados. Não permitem de maneira alguma a presença de pássaros, mesmo de maior porte, por perto de seus ninhos, notadamente quando estão com filhotes. Um curió enfrenta com coragem um bicudo muito maior, se sentir algum tipo de ameaça. Não hesitam em sacrificar a própria vida para defender sua família.
Na natureza, em estado selvagem, vivem muito pouco, por volta de dez anos no máximo. Isto é comprovado pela experiência de passarinheiros mais antigos. Dizem eles que no passado, quase todos os pássaros capturados e que eram encontrados em regiões ainda não exploradas, possuíam pouca idade.
O território, habitat dos curiós e bicudos, está sempre perto de lugares onde há água limpa e abundante. Em geral, essas localidades possuem densa vegetação de arbustos de baixa altura, alternados de lugares limpos compostos só de capim navalha, de muita ventilação, muita umidade, muito sol e muito calor.
Na época da muda ficam escondidos no meio das matas e não cantam. Como vimos, são muito exigentes com o seu habitat natural.
Na natureza, ambientes silvestres adequados para esses pássaros, estão ficando cada vez mais escassos e difíceis de serem encontrados. O pior é que não há como convencer ninguém de que as vegetações naturais de terras de baixadas, brejos e várzeas devem ser preservadas, porque justamente são as áreas mais férteis e muito procuradas para o desenvolvimento de lavouras racionais de cereais.
Daí não é difícil prever que a solução não pode ser outra senão a homologação cada vez maior de parques nacionais e a reprodução em larga escala nos ambientes domésticos. Dessa forma se poderá, em breve, fazer-se repovoamento a partir de exemplares de criação. No Brasil, este tipo de criação iniciou-se na década de 80 e hoje, podemos dizer que esses dois pássaros estão livres da extinção em face da larga reprodução doméstica.
Tornou-se uma verdadeira paixão a respectiva criação, são milhares de aficionados que participam dos torneios de canto em centenas de cidades brasileiras. Com esse nível de interesse, há criadores que estão conseguindo a reprodução em escala de produção industrial para abastecer o mercado sempre crescente. Extrai-se de cada fêmea matriz, em gaiolas do padrão para criar o canário doméstico, cerca de 10/12 filhotes durante a temporada reprodutiva (setembro a fevereiro), marca que não pode ser atingida na natureza pelas condições desfavoráveis de nutrição.
Domesticamente são alimentados facilmente com alpiste, painço, arroz em casca e rações balanceadas e outros produtos encontrados no mercado.
Domesticamente são alimentados facilmente com alpiste, painço, arroz em casca e rações balanceadas e outros produtos encontrados no mercado.
A verdade é que grande parte de ornitofilistas brasileiros, que outrora se dedicavam a reproduzir algumas espécies, estão passando por um processo de mudança e alterando sua criação para silvestres. Nessa linha e nessa progressão, dentro de pouco tempo, os órgãos interessados, os criadores comerciais e amadores, poderão ceder parte da criação para após a separação de uma área de terra própria em estado natural, poderão fazer o desejado e sonhado repovoamento, com o objetivo de promover a preservação em estado selvagem de curiós e bicudos, através de uma reintrodução monitorada.
Todos os aficionados por esses pássaros querem ter ou produzir o curió e o bicudo em ambiente doméstico. Isso é muito importante para a preservação das espécies, pois irá servir de estímulo para que muitos sejam incentivados e passem a exercer a procriação com mais afinco e dedicação.
Vilson de Souza.