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1. Definição.
Vetorização é o nome que damos ao resultado canoro conseguido através do estado “psicológico condicionado” resultante da atuação de elementos sonoros, instrução do dialeto da espécie ou situações sonoras exteriores, impressas pelos órgãos dos sentidos, em momentos “geneticamente pré-estabelecidos” para memorização do dialeto da espécie. Ex: O filhote foi vetorizado com o canto Praia Grande Clássico. A afirmativa diz respeito a que tal filhote, embora estando na fase do corrichar na época apropriada irá assoviar tal dialeto, pois o mesmo encontra-se Vetorizado. O filhote passa a ser portador desta informação tornando-se um vetor deste dialeto que se encontra impresso.
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2. Caracteres desejáveis do filhote.
Deve ser comprovadamente filho de Curió de excelente TEMPERAMENTO (fogoso), possuidor de BOA VOZ e REPETIDOR DE CANTO e já ter transmitido tais caracteres a filhotes de ninhadas anteriores.
Deve ser comprovadamente filho de fêmea de curió de excelente TEMPERAMENTO (fogosa), filha de curió possuidor de BOA VOZ e REPETIDOR DE CANTO e já ter transmitido tais caracteres a filhotes de ninhadas anteriores.
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3. Quando iniciar o processo.
Após o nascimento do filhote em questão, mais precisamente no 16º (décimo sexto) dia de nascido, ou seja, 3º (terceiro) dia após a saída do ninho (momento em que ocorre a manifestação dos INSTINTOS SELVAGENS do pássaro e ele perde a ingenuidade característica dos NIDÍCOLAS), momento em que o filhote fica arredio, arisco, (NIDÍFOGA) e tenta fugir da presença do criador, atentando contra as grades da gaiola, é neste momento que devemos iniciar o processo de VETORIZAÇÃO do dialeto mediante a implantação do método de CONFINAMENTO ÁUDIO E VISUAL, ainda em companhia da mãe.
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4. Método de vetorização do dialeto confinamento auditivo e visual.
Conduzimos a gaiola da fêmea para uma Gabine de Vetorização ou recinto aonde as influências externas são totalmente eliminadas (ausência total de qualquer tipo de manifestação sonora) exceto a exposição sonora do DIALETO que se pretende vetorizar denominada de INSTRUÇÃO, executada através de equipamento CD-Player Programável, ou Pássaro Eletrônico com excelente qualidade sonora, com exibições controladas por TIMER em número de 03 ou 04 exibições diárias com duração de no máximo 15 (quinze) minutos cada e intercaladas por pialadas e chamados entre cantadas, distribuídas da seguinte forma e horários.
- Das 05:30 (Cinco e trinta) horas às 05:45 (Cinco e quarenta e cinco) horas da manhã.
- Das 07:00 (Sete) horas às 07:15 (Sete e quinze) horas da manhã.
- Das 09:00 (Nove) horas às 09:15 (Nove e quinze) horas da manhã
- Das 17:00 (Dezessete) horas às 17:15 (Dezessete e quinze) horas
Os espaços compreendidos entre as exibições serão preenchidos com a utilização de um rádio sintonizado em emissora FM com volume moderado tendo como finalidade provocar o estímulo canoro do filhote e ao mesmo tempo criar uma dinâmica sonora no ambiente intercalada por falas do locutor quebrando a monotonia do confinamento, evitando que o filhote se interesse por eventuais influências sonoras que por ventura penetrem no ambiente. O volume do rádio não deve exceder a certos limites, pois há uma tendência dos filhotes tentarem suplantar o volume do rádio, transformando-se no decorrer do tempo em verdadeiros gritadores o que prejudicaria a formação do seu timbre, estragando para sempre o seu canto por adquirirem tal hábito. Caso seja usado Cabines de Vetorização, os espaços compreendidos entre as exibições poderão ser preenchidos por gravação sonora do barulho de água corrente como fonte estimulativa.
Ao completarem 30 (trinta) dias de nascidos os filhotes são separados do convívio da mãe que retornará ao criadouro para produzir a próxima ninhada ou se durante a cria dos filhotes ocorrer da fêmea solicitar a cópula (pedir gala), os filhotes devem ser temporariamente removidos da gaiola de criação para um recinto sonoramente seguro enquanto a cobertura da fêmea é efetuada longe da presença dos filhotes que em nenhuma hipótese devem ouvir o canto e as serradas do padreador durante a cópula sobre pena de inutilizarmos os filhotes. Logo em seguida retornamos os filhotes ao convívio da mãe que fará a postura e iniciará a incubação dos ovos sem negligenciar a sua tarefa de alimentar os filhotes separados por grade divisória.
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5. Apartação.
Aos 30 (trinta) dias de nascidos os filhotes são apartados da mãe em gaiolas individuais e encapados permanecendo no mesmo regime em que se encontravam anteriormente. Agora, sem a presença da mãe, inicia-se o CORRICHAR.
Procede-se em seguida a SEXAGEM, permanecendo no recinto apenas 01 (um) macho ou em caso de 02 (dois) machos na ninhada, o de melhor temperamento. Em nenhuma hipótese o filhote em questão deve ouvir ou trocar canto com outros filhotes. O ensino é individualizado por questões territorialistas e da busca do aprendizado com a máxima perfeição, sendo ainda que, os filhotes que aprendem a cantar em pequenos grupos adquirem uma série de hábitos indesejáveis, tais como abrir o canto e logo em seguida interrompê-lo para escutar a resposta do companheiro.
Estabelecido este vício ficam inutilizados para sempre, o grupo não desenvolve o caractere repetição e passa a emitir apenas fragmentos do dialeto ministrado no afã da disputa que se instala entre eles por QUESTÕES TERRITORIALISTAS.
O filhote que submetemos ao método de CONFINAMENTO AUDITIVO E VISUAL após a apartação já tem memorizado todo o dialeto contido nas instruções, ou seja, O CANTO ESTÁ VETORIZADO e como a encapagem da gaiola lhe tira a visão, tal fato o leva a aguçar a audição (fenômeno este muito conhecido entre os deficientes visuais) buscando dar conta do que acontece no ambiente onde se encontra confinado emitindo chamados ao menor movimento no recinto. A partir deste ponto passamos a ter o máximo de rendimento do método, mais também o máximo de cuidado com eventuais invasões sonoras indesejáveis no ambiente.
Continuamos com as instruções nos horários anteriormente estabelecidos, bem como a utilização do rádio que pode ter o seu volume um pouco aumentado tendo em vista o aguçamento auditivo do filhote e, possibilidades de contaminação sonora vinda do exterior. Tais preocupações são dispensáveis com o uso das Cabines de vetorização. Com o crescente desenvolvimento do corrichar o criador tende a submeter o filhote a um maior número de instruções e exposições mais duradouras. Tal tendência deve ser controlada sob pena de inutilizarmos o filhote, pois o excesso de instruções nesta fase é totalmente desaconselhada, tendo em vista que o filhote já foi vetorizado. Precisa-se apenas nesta fase exercitar-se estimulado pelo som do rádio (na natureza os filhotes nesta fase buscam os cursos dos rios e cachoeiras para estimular-se à prática do corrichado) para desenvolver a SIRINGE (órgão responsável pela fonação). Preparando-se para o surgimento dos primeiros assovios, a intensificação de instruções nesta fase provocará a total inibição do corrichar com o estabelecimento do medo, desinteressando-se pelo aprendizado e em casos mais graves se instala o DPA- Distúrbio da Plumagem do Pássaro com o surgimento da injúria da plumagem (auto depenação). O filhote deve ser mantido rigorosamente dentro do esquema previamente estabelecido.
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6. Manejo do filhote.
O ambiente em que mantemos o filhote deve ser relativamente confortável, bem arejado, desprovido de correntes de vento, umidade excessiva tais como banheiros e cozinhas e em nenhuma hipótese deverá ter as paredes revestidas de azulejo, cerâmica ou pastilhas, pois tais ambientes não absorvem o som (por serem revestidos com material refletivo e não absorvente) das ondas sonoras provocando eco (reflexão da onda acústica pelas paredes) e reverberação (persistência de um som num recinto limitado, depois de haver cessado a sua emissão pelo pássaro). A conseqüência direta é a má formação do timbre, com a metalização da voz do filhote, dotando-o de um timbre com testura irritante, com a eliminação da maviosidade e maciez. (perde o veludo da voz). Tal preocupação é dispensada com o uso das Gabines de Vetorização.
O ideal seria um ambiente revestido com cortinas, se possível paredes revestidas de manta de espuma de nylon ou qualquer material absorvente sonoro. Aos 03 (três) meses ou próximo desta idade o filhote confinado inicia a emissão dos PRIMEIROS ASSOVIOS e em 15 (quinze) dias já está com o canto (ou o que ele estiver executando como canto) completamente limpo de CORRICHADOS. O canto a partir desta data será composto apenas por assovios inicialmente acelerados e meio descoordenados (dizemos que o canto está turbado) o que vai se ajustando com o passar dos dias. O filhote apresenta-se bastante agitado, muito nervoso irritando-se com muita freqüência, principalmente com o dorminhoco (pequeno poleiro alto da gaiola), efetuando com freqüência uma espécie de vôo giratório em torno da extremidade do dorminhoco com emissão de sons que se assemelham a um CHILREADO que acompanha os movimentos circulares (três a quatro voltas completas e contínuas no ar) que se assemelham ao pairar de um beija-flor em visita a uma flor, só que no caso em questão a extremidade do dorminhoco faz às vezes da flor e o filhote gira voando em torno da extremidade. Tal movimento é conhecido entre os criadores que usam o método pelo o nome de BEIJA-FLOR. (Não confundir com Salto Mortal LOOPED etc.).
Neste estágio, passamos a ministrar a instrução apenas duas vezes por dia (início e fim do dia), tomando por base a prática do método, temos verificado que os filhotes não suportam a massificação das instruções e se estressam retraindo-se, comprometendo todo o desenvolvimento da AUTO CONFIANÇA no momento em que começa a ter as primeiras experiências com o canto. As conseqüências são as piores possíveis, pois com instruções desnecessárias ocorre o desinteresse total do filhote e se estabelece o medo. Neste estágio o canto já se encontra vetorizado precisando apenas ser exercitado com tranqüilidade e moderação para que tenha um bom desenvolvimento. Ministrar instruções Longas e demoradas, nesta fase do ensinamento estabelecerá Aspectos Territorialistas no filhote tais como disputas de canto com a instrução. Tal fato leva o filhote a fragmentar suas emissões de canto inibindo totalmente o processo de aprendizagem e repetição, quando não afeta o estado psicológico com o estabelecimento do medo causando danos irreversíveis tais como: Destruição do Temperamento (com abertura de asa constante), Auto Depenação, (arrancamento das penas pela ave) Afinamento (imobilização da ave no poleiro por longos períodos).
O filhote, em nenhuma hipótese, deve deixar o recinto de confinamento sobre quaisquer pretextos, e muito menos a capa ser removida; em nenhuma hipótese deve tomar conhecimento do mundo exterior para não dividir a sua atenção com o que acontece lá fora. Nesta fase, qualquer manejo da gaiola pode provocar a estimulação do temperamento levando o filhote a um estado de agitação e nervosismo que prejudicará todo o trabalho em desenvolvimento, pois o manejo precoce pode desencadear o processo de repetição do canto antes que ele se forme completamente levando a ave a só cantar fragmentos, não mais se interessando pelo aprendizado, e pior ainda, estabelecer o hábito de repetir um fragmento de canto. O estado de agitação e nervosismo (enfezamento) que acometem filhotes de excelente procedência o leva a externar de forma exagerada um temperamento fortíssimo que conduz o filhote a uma fluência canora super abundante e exaustiva, provocando um cantar sem limites, levando o filhote a um estado de rouquidão irreversível quando não o derruba do poleiro num ataque fulminante que lhes ceifa a vida.
Registro aqui o fato de que alguns filhotes da linhagem ESTRELA BAIANA interromperam o corrichado entre 45 (quarenta e cinco) e 60 (sessenta) dias de apartação da mãe, iniciando precocemente a fase de limpeza do canto com emissões de assovios.
Tal fato, embora muito desejável por parte dos criadores, tem acarretado uma gama muito grande de problemas, pois a SIRINGE (órgão responsável pela fonação) necessita de no mínimo 90 (noventa) dias de corrichado para poder se desenvolver e executar assovios com a fluência e intensidade característica desta linhagem de excelentes curiós que se desenvolve no Sul da Bahia. Valho-me do conhecimento de alguns casos ocorridos entre nós sendo que o de rouquidão tem sido muito freqüente. Os filhotes aqui referidos começam a assoviar de maneira exaustiva e ininterrupta, apresentando volume de emissão de canto e fluência excepcional sobrecarregando a SIRINGE que não estando completamente desenvolvida começa a apresentar problemas que vai desde a rouquidão (com a perda da afinação e em seguida da voz) até a morte do filhote. Em tais casos, o filhote deve ser contido a qualquer custo.
Deve ser conduzido a local onde predomine a penumbra (presença parcial da luz) e desativado todos os meios e recursos de estimulação do canto tais como: sons produzido por rádio, reprodução de instruções através de quaisquer meios, predominando o silêncio absoluto inclusive a eliminação de quaisquer influências externas, em especial o canto de outro pássaro, devendo predominar a tranqüilidade e o silêncio absoluto mesmo que em último recurso tenhamos que coloca-lo “cara a cara” com um outro filhote fêmea , de idade semelhante, durante o tempo que se fizer necessário para a recuperação dos danos por ventura já causados na SIRINGE ou porprevenção. Em casos de lesão a SIRINGE, (rouquidão do filhote) ministrar no bebedouro água potável com pequenos pedaços de casca desidratada da fruta ROMÃ, (fruto da romãzeira) que tem dado bons resultados. Não exagerar na quantidade de casca, pois a mesma produz rapidamente coloração amarelada na água com um forte amargor. O tratamento deve ser suave e durar até cessar a rouquidão. Lesões da SIRINGE por exaustão tem sido uma preocupação constante entre os criadores da raça ESTRELA.
Ao atingir os 04 (quatro) meses de idade o filhote já emite todo o dialeto ensinado apresentando algumas dificuldades, tais como: a emissão em demasia de determinadas notas ou a eliminação de outras, verificando-se com freqüência no caso do Canto Praia Grande Clássico uma desordem na estrutura do canto por ser muito extenso e variado.
Alguns filhotes negam a entrada de canto, outros os arremates, outros ainda, fazem uma confusão generalizada. Tudo depende especificamente de cada um, de uma maior ou menor capacidade de assimilação, sendo que algumas características estão sempre ligadas a outras, ou seja, uma característica provoca o surgimento de outra, é a causa gerando um efeito. Vejamos, os filhotes que apresentam o canto bastante desordenado geralmente são muito fluentes e emitem com muita rapidez e facilidade tríades (conjunto de três notas) que predominam no canto Praia Grande propiciando a confusão a que me refiro, pois bem, tais filhotes são geralmente os que irão repetir canto, pois a fluência associada ao fôlego são condições indispensáveis para tal fim. Os filhotes que emitem demasiadamente certas notas o fazem porque ainda não automatizaram a emissão correta do canto e tendem a executá-lo todo em tríade (conjunto de três notas) não observando os conjuntos de duas notas (dual) que eles executam como tríades acrescentando uma nota a mais. Temos observado que certa deficiência ocorre por excesso de determinada qualidade, os filhotes apresentam tendências das mais variadas, compete ao criador identifica-las e dosa-las buscando a formação correta do dialeto. Aí começa a etapa de lapidação do canto.
Escrito por Gilson Ferreira Barbosa.
Vilson de Souza.