Pássaros silvestres, muitos deles ameaçados de extinção, preservados graças aos criadores obstinados. |
Hábito vindo desde nossos ancestrais, as gaiolas fazem parte do visual rural e urbano. Sejam casas ou apartamentos, são excelentes animais de companhia pelo pouco espaço que ocupam e pela facilidade em manter sua alimentação e manutenção de um pássaro de estimação que já é mais do que comprovado pela Ciência, para todas as faixas de idade.
Imaginem então podermos ver o milagre da vida, testemunhar o ciclo biológico: “Todo ser vivo nasce, cresce, reproduz e morre”, em ambiente doméstico?
Ver o ritual de acasalamento - quando os machos normalmente ficam ainda mais imponentes e soltam seus cantos melodiosos de galanteio, a confecção do ninho, a postura dos ovos, 1, 2, 3..., a fêmea chocando durante doze, treze dias e os primeiros filhotes nascendo, aquelas coisinhas feias que achamos lindos, sem penas, desprotegidos, mas firmes em erguer seus bicos pedindo alimentação e sendo aquecidos pela mãe que só os deixa em busca de comida.
Ver seu empenamento e crescimento, cada vez mais salientes e espertos, já emitindo sons de aviso de que estão com fome. Seus primeiros momentos em que se sustentam em suas patas e caminham em direção à borda do ninho, curiosos, com seus olhos observando a tudo de forma vivaz. Chega o momento de darem seus primeiros passos, ops, vôos, deixando os ninhos e se mantendo como podem nos poleiros, ainda sendo alimentados pelos pais.
Começam a tocar nas comidas, em um gesto mais de imitação do que de alimentação. E assim vão se tornando independentes, até que aos 30, 35 dias são emancipados pelos pais, para que possam ceder espaço para outro ciclo de reprodução.
Suas penas, em algumas espécies, ainda não têm a coloração definitiva. São ainda penas de camuflagem, que na natureza os deixam a salvo de predadores naturais. E, nas espécies em que há dimorfismo sexual, como seu primeiro ano de vida suas penas pardas vão sendo substituídas pelas cores definitivas. O significado dele é muito mais do que ter um animal de estimação. A natural curiosidade do homem o faz procurar mais conhecimentos de como tratar melhor, de observar algum problema de saúde e de como fazer com que possa ocorrer a interação entre ele e o pássaro. Essa relação vai se firmando, com a ave cantando alegremente na presença de seu dono. Tal qual um cachorrinho abanando o rabo, ele precente a presença e emite seus diversos tipos de canto.
Alguns são territorialistas e fazem do canto seu instrumento de intimidação. De marcação de território.
Mas o homem não se contenta com isso. Troca idéias com possuidores de outros pássaros ou com seu fornecedor de rações. Começa a estudar seu habitat natural e sente despertar a necessidade de preservar. Percebe que a degradação ambiental vai diminuindo as populações livres.
Que algumas espécies estariam extintas se não fosse à criação em ambiente doméstico.
E vai aprimorando suas técnicas de manejo.
Muita coisa ainda na base das tentativas, dos erros e acertos. A prática. Depois alguém vai se incumbir de definir a teoria. Mas esse auto didata tem uma considerável importância no conhecimento biológico das espécies.
Ele já não chama qualquer passarinho de canarinho. A não ser que seja mesmo. Começa a se apaixonar pelas aves nativas brasileiras. Identifica o Coleirinho, o Curió, o Canario da Terra, o Trinca Ferro, o Pássaro preto, o Sabiá. Delicia-se com o Corrupião brincando em seus dedos e atendendo a seus chamados. E assim adiante.
Já sabe distinguir as diferenças alimentares. Das formas de reprodução. Toma conhecimento da legislação. Das normas legais para poder manter e criar seus alados. Passa a se orgulhar de suas crias. Cada vez que ouve o canto de suas aves ou mesmo de seus simples "pialados". Estufa-se, sua vaidade cresce e sua auto estima está livre de anti-depressivos.
Passa a perceber a dimensão de sua importância na preservação ambiental. De saber que, com sua atuação, gerações futuras poderão continuar a poder usufruir desse prazer. E, de estarem criando mais e mais espécies.
Pássaros silvestres, muitos ameaçados de extinção, preservados graças a alguns criadores obstinados.
In Memoriam
Escrito por: Rogério Fujiura - (*1959 / +2009).
Vilson de Souza - Navegantes-SC.