*** Curió Canto Clássico - O canto que encanta quem ouve. *** *** A herança em forma de canto. ***

Alguns podem achar o cachorro o melhor amigo do homem, mas não os Tupi-Guarani. Para eles, o melhor amigo do homem é o Curió, ou pelo menos é isso que seu nome significa na língua tupi. O pássaro, de plumagem negra, com o peito avinhado e pequena mancha branca nas asas, também conhecido como Avinhado, não se destaca pelo porte e sim pela beleza de seu melodioso canto. A ligação com a amizade decorre, provavelmente, da fácil aproximação desses pássaros, que sempre rodearam as aldeias indígenas, e do ânimo que a melodia infunde em quem a ouve.
Atualmente, mais de 120 tipos de cantos já foram registrados, estando, entre os mais conhecidos,  Paracambi, Gaiona, Florianópolis, Vi-té-téu e Praia Grande. Segundo Helmut Sick, em sua obra Ornitologia Brasileira, a espécie desenvolveu diversos tipos de ‘dialetos’ de acordo com o ecossistema a que pertence, e isso se explica pela incidência da espécie em toda América do Sul e Central, com exceção do Chile e Uruguai.
A ave habita regiões quentes, onde o clima varia de 25 a 35 graus no verão, com densa vegetação de pequenos arbustos e muita água limpa.
Na natureza, alimenta-se de sementes, algumas espécies de capim e pequenos insetos. Hoje, entretanto, é raro encontrar exemplares selvagens. Sua maior qualidade, o canto, fez dele um pássaro prestigiado pelos criadores e isso o tem salvado da deterioração ambiental e de uma possível extinção.
Não é exagero comparar Curiós com crianças com aptidão vocacional para a música, pois já desde pequena a ave desenvolve suas habilidades musicais.
No ambiente natural o canto é passado de pai para filho, mas seus criadores aplicam uma técnica peculiar para desenvolver as melodias.
O canto dos grandes campeões é gravado CDs e reproduzido ao pequeno aprendiz, fazendo com que se torne um belo cantor. O canto ideal deve ser limpo, melodioso e fluente, com assovios sonoros e fortes.
Porém, além de boa cantora, a ave também é uma ótima imitadora, por isso é aconselhável criá-las longe de qualquer outra espécie de pássaro canoro. Para formar um vencedor, entretanto, não basta apenas ter uma ave de bom canto. Treinadores experientes levam seus Curiós para passear a fim de acostumá-los com o movimento, pois assim os pássaros não se surpreendem durante as competições.
Bons curiozeiros também procuram aperfeiçoar a espécie através da seleção genética, cruzando pássaros que possuam belos cantos e repitam a melodia sem interrupções.
A recompensa por tudo isso, além da maravilhosa melodia, é o preço alcançado por algumas aves.
“Um Curió com bom nível de canto chega a atingir valores altíssimos, equivalente a um apartamento ou dois carros novos” afirma Olívio Nishiura, diretor de Relações Públicas da Associação de Curiós, com sede em São Paulo.
A paixão pela ave é tanta que em Florianópolis existe até um Curiódromo, uma espécie de arena montada para as acirradas competições de canto, apresentações e troca de experiências entre seus criadores.
“No Brasil ocorrem 20 torneios oficiais a cada ano, realizados em diferentes cidades”, explica Nishiura. “Cada competidor é chamado por ordem de inscrição e deve pendurar a gaiola com seu Curió em uma estaca, durante 5 minutos. O pássaro é julgado com base no regulamento de ‘Canto Praia’, por dois juízes federados, e recebe uma nota que varia de zero à dez. No final são classificados os cinco melhores”.
Hoje, os criadores precisam ter registro no IBAMA e seus pássaros devem portar anilhas, uma espécie de argola de metal colocada na perna das aves para identificá-las. Dessa forma, os interessados em criar Curiós não podem adquirir os pássaros procedentes da fauna silvestre.
Para se ter uma idéia de como a captura indiscriminada é prejudicial para a espécie, alguns cantos já desapareceram da natureza e só podem ser ouvidos por aves criadas em ambiente doméstico. No Centro de Triagem de Animais Silvestres do IBAMA, o Curió figura na 6ª colocação entre as aves mais apreendidas. Segundo Nishiura, “atualmente existem mais de 200 mil criadores inscritos regularmente no IBAMA, com milhares de Curiós registrados”, o que contribui para manter a ave fora da lista de animais ameaçados de extinção.

A  herança  em  forma  de  canto
No ambiente natural, o canto dos Curiós é passado de pai para filho, fazendo do pequeno pássaro um aprendiz durante seus primeiros meses de vida. Com a mesma naturalidade que a técnica é transmitida entre as aves, Moacir Antônio de Oliveira Júnior, coordenador do departamento de engenharia da Ergomat, é já o terceiro na linhagem de admiração e dedicação a tais pássaros. “Comecei a criar Curiós em 1945”, explica Moacir, pai do engenheiro. “Meu pai sempre trazia um pássaro de suas viagens, tive pássaros de todo o Brasil” conta. “Na época eu pegava gafanhotos, cupins e larvas-de-pau para dar de alimento e ainda hoje eu mesmo faço a ração”, recorda.
Hoje, seis décadas mais tarde, Moacir coleciona histórias, experiências e, claro, Curiós. Em função da atenção exigida pelo manejo desta ave, boa parte do seu tempo é dedicada ao criadouro.

Moacir sabe o número da anilha de cada pássaro, seus nomes, descendentes e, por incrível que pareça, até assovia a melodia.
Apesar de já terem obtido dois troféus, pai e filho ainda buscam um pássaro campeão. Isto porque as categorias julgadas nos torneios são muito distintas, premiando diversos tipos de canto, tais como Clássico, Pardo e Liso, com ou sem repetição. Os pássaros repetidores, ou seja, aqueles que repetem seguidamente o mesmo canto, são os mais cotados.


Fonte: www.omundodausinagem.com.br