Muita gente fica preocupada quando se fala em aprimoramento
genético em pássaros canoros brasileiros, e com razão. É preciso uma explicação
muito minuciosa sobre o que estamos querendo dizer quando falamos nisso. É o
que vamos explicar agora, inclusive, para que fique muito bem claro qual a
posição a respeito desse polêmico assunto.
Os criadores de Curiós submetem seus plantéis a complicados
métodos de seleção e aprimoramento genético, uma verdadeira ciência.
O produto disso são aves que cada vez mais atendem aos
interesses dos eventuais aficionados. São mais melodia, balanço, voz e andamento à
disposição dos interessados. É a busca do perfeito, do diferente e do que se
adapta melhor ao gosto de cada um e assim por diante. São novas descobertas e
novos cruzamentos sempre perseguindo o melhor.
Esse lado do processo de reprodução é a grande mola propulsora
que incentiva os criadores a se esmerarem no desenvolvimento de suas
atividades.
Quem não cuidar da qualidade genética de seu plantel estará
exercendo um trabalho de pouca relevância para a criação. O emprego de
cruzamento entre espécies e subespécies é muito utilizado, são intrincadas
fórmulas que só muita prática, dedicação e organização para executá-las. O que
se quer é sair na frente e obter-se exemplares os mais interessantes e os mais
procurados possíveis.
É esta a conjuntura desses segmentos. É nessa linha que as
empreitas de muitos tem dado certo. Será que para os criadores de pássaros
canoros brasileiros seria diferente? O que estamos fazendo? Estamos,
logicamente seguindo a regra geral. Conseguir o melhor, o mais cantador, o que
repete, mais e o mais bonito de porte, talvez.
O que nos interessa, sobretudo, é o canto. O curió é um
pássaro que apresenta muitas particularidades a este respeito. São inúmeros
dialetos em seu estado natural. Daí, já começa a complicação. Os estilos de
cantos mais bonitos e valorizados são os mais requisitados para a reprodução. É
preciso ter-se cuidado para se obter crias de excelente canto.
Os machos de canto indesejável são afastados das fêmeas mães
logo após a gala, quando utilizados. Isto porque a maioria dos filhotes
aprendem ainda no ninho o dialeto de canto do pai. Outra questão diz respeito
às aves de fibra, há muitos criadouros atendendo a esta modalidade.
Os de fibra, são aqueles que cantam destemidamente, são
aqueles que são capazes de vencer desafios de canto e que vencem os torneios de
fibra - os que canta mais. São pássaros maravilhosos, os mais mansos, os
mais adaptados, os mais fáceis de serem treinados, os mais valentes, os que
cantam mais depressa nos torneios. Não bastasse isso, vem a questão mais
importante é a do pássaro repetidor - aquele que canta a frase musical por
várias vezes sem interrupção - chegam a cantar até 3 minutos sem parar. São os
mais valorizados, são esses os mais procurados. Não vale a pena a reprodução se
não se conseguir pássaros repetidores. Não interessa a ninguém. Se o pássaro
emitir um canto só ou dois, pode ser o que for, de canto ou de fibra que serão
logo descartados.
O canto fica enjoativo e o pássaro não tem produção para
concorrer com aqueles que repetem. O que está se fazendo, então. O bom criador
procura juntar os três predicados, o canto, a fibra e a repetição. Assim,
provavelmente conseguirá pássaros de excelente qualidade e que poderão ser
transacionados com muito mais facilidade. Isto é obtido com a utilização de
campeões famosos na reprodução.
É quase que uma obrigação dos curiozeiros colocar seu pássaro
campeão para reproduzir. Ainda bem que isto está efetivamente acontecendo. Essa
é a realidade. É uma realidade benfazeja, essa realidade é que nos tem ajudado.
São milhares os exemplos dessas ocorrências. Daí o nosso entusiasmo.
Esses casos demonstram sobremaneira porque um crescente e
quase total desinteresse por espécimens de origem silvestre. Esse tipo de
cruzamento chamado “em pureza”, é o normal e é o que quase todos os curiozeiros
exercem. Ele possibilitará que num futuro, desde que necessário e sob a
monitoração do poder público, se faça eventuais repovoamentos em áreas protegidas.
Outro tipo de cruzamento, realizado por pequena parte de criadores são os
cruzamentos entre subespécies ou espécies diferentes. Tem-se que ter muito
cuidado para não produzir “fenômenos teratológicos” .
Todavia, como pesquisa, de repente, um cruzamento pode dar
certo, pode melhorar a forma, a aparência ou o desempenho. Tem-se, sempre, que
analisar o aspecto até ético e moral da questão. Saber, também , que esse
pássaro não poderá, de forma alguma ser solto na natureza. Só poderá servir
para uso doméstico, exclusivamente. Especificamente quanto às mutações nas
penas. Penas quase sempre brancas, bicos rosados e assim por diante é um caso
especial.
Em curiós quase ninguém está praticando esses cruzamentos,
inclusive porque são raros. Já nos canários-da-terra muitos criadores estão
tentando fixar as mais lindas mutações. É um cruzamento “em pureza”, todavia. A
procura é grande e a facilidade na criação desse tipo de canário, também ajuda.
Esse é o trabalho, ora, desenvolvido pelos criadores do Brasil. Essa é a
contribuição que estamos tentando dar no sentido de tornar sistematizado o
trabalho de preservação. Não podemos esquecer, entretanto, dos cuidados que se
deve ter quando estamos buscando um necessário aprimoramento genético.
Por: Aloísio Picini Tostes
Fonte: www.bicudario.com.br