Afinando o canto - Treinador de curiós.

Apaixonado por pássaros desde os oito anos de idade, José Dimas Rodrigues sempre teve prazer em criar aves. Quando menino morava na roça e dedicava parte do seu tempo para cuidar dos ninhos, alimentar os pássaros e apreciar seus cantos. Hoje, pai de duas garotas, o passar dos anos não lhe tirou essa paixão. 
Em 2003, com a autorização do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis), Dimas adquiriu o registro comercial para manter em sua casa uma criação de curiós, ave que se encontra ameaçada de extinção. Segundo ele, o trabalho que desenvolve, desde 1994, antes mesmo do registro do Ibama, é visando a preservação a espécie. “Aqui na nossa região já não se encontra mais curió na mata”, fala desolado aos que o visitam em casa. 
Logo na entrada, na sala da casa do Dimas, ele apresenta o "Diamante", pequeno e preto, o curió ocupa uma gaiola suspensa por um pedestal no canto da parede. Atrás da gaiola há um microfone, que serve para amplificar, ou como diz ele, “dar mais vida ao canto do pássaro”.
Junto com o "Diamante", outros exemplares, como os que chama por "Pavaroti" e "Madona", vão formando o criadouro de curiós do Dimas.
A pequena ave, que pesa em média 20 gramas, pode chegar aos 30 anos de vida .
Protegida por uma plumagem escura, a discreção de suas cores contrasta com a exuberância de seu canto. As fêmeas possuem uma tonalidade parda e o macho com o peito marrom e as costas pretas. No criadouro do Dimas, os pássaros não apenas se reproduzem, mas são treinados para o aperfeiçoamento do canto. 
Com quase 40 dias de vida, depois de uma boa alimentação e medicado contra possíveis doenças e ataque de bactérias, alguns machos são escolhidos para ir ao estúdio onde aprimoram o canto. As salas acústicas em que Dimas instala as aves são revestidas com material apropriado para isolar qualquer tipo de som externo. 
Por ser uma ave territorialista, os curiós são dispostos em gaiolas individuais dentro desses estúdios. Lá, eles passam o dia ouvindo o CD do canto do curió “Praia Ana Dias”, categorizado também como canto clássico. Alternado a esse CD, eles também ouvem música sertaneja, MBP e rádio. Segundo Dimas, ouvir outros tipos de música serve para melhorar a sociabilização dos curiós.
Aos nove meses de idade, os curiós já estão cantando a plenos pulmões, embora, segundo o criador, nem todos os machos aprendem a cantar.
“Quando acontece de algum pássaro não cantar com a afinação necessária, ele é separado para servir apenas de reprodutor”.
Dos machos cantores, Dimas escolhe cerca de três pássaros para levar para os torneios, o que exige mais treino.
“É importante que o curió saiba cantar no meio de pessoas estranhas e que não erre nenhuma nota musical”, conta Dimas. Anualmente, acontece a temporada de torneios entre os meses de setembro a dezembro, a fim de premiar o curió de melhor canto. 
O ciclo de reprodução dos curiós acontece na primavera e no verão, entre os meses de setembro e março. A fêmea só cruza com o macho ao som do canto de outro curió. Depois de três dias do cruzamento, a fêmea põe de dois a três ovos e leva em média 13 dias para chocar os filhotes. 
Para auxiliar a mãe com alimentação, Dimas coloca, com a ajuda de uma seringa, vitaminas e complemento alimentar no bico de cada filhote.
Com nove dias de vida, é feito um exame de DNA para saber o sexo do pássaro, o que só seria possível, a olho nu, após completado o primeiro ano de vida. “É preciso identificá-los logo cedo, porque só os machos são capazes de cantar, e precisamos treinar o canto deles quando ainda são filhotes”, diz Dimas. Além do exame, os filhotes também recebem um anel de identificação com os dados do criador, Estado e ano.
A procura pelos pássaros do criadouro do Dimas vem de Estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina. A venda é feita sempre com nota fiscal, sendo que o comprador ainda recebe o exame de DNA e a árvore genealógica da ave.
“Tenho um bom mercado. Levo muito a sério o meu trabalho”.

Criadouro Comercial Mineirinho - Pouso Alegre-MG. 

Escrito por Dilmara Mendonça.

Vilson de Souza.